Série: Maturando o Prazer — A Arte de Permanecer Aberta
- Arvind Kidambi
- 22 de abr.
- 9 min de leitura
Arvind, Brasília 💋
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Artigo 1: O Primeiro Sopro — Quando um Projeto Entra sem Pedir Permissão
Antes de qualquer grande projeto, há um silêncio.
Mas não é um silêncio vazio.
É um espaço.
Vivo.
Úmido de possibilidades.
Você vive sua vida normalmente. Planilhas. Trânsito. Cafezinho morno.
E de repente...
Ele aparece.
Não é um insight. Não ainda.
É um arrepio.
Uma ideia sem forma, mas com cheiro.
Com gosto.
Um leve formigamento nos lábios do seu tempo.
Você tenta ignorar. Diz que está ocupado.
Mas ele já entrou.
De mansinho.
Como quem encosta a testa na sua nuca só pra ver se você ainda sente.
E você sente.
É o começo.
O projeto ainda não tem nome, escopo, cronograma.
Mas já está dentro.
Você começa a fazer perguntas idiotas no Google.
Abre uma aba. Depois outra. Depois... vinte.
Cada clique é como abrir um botão da blusa.
Você começa a se despir da rotina sem perceber.
Só pra sentir melhor a ideia encostando.
Você sonha com ele.
Fala dele nos cafés, como quem fala de um novo amor: com aquele medo ridículo de parecer ridículo.
Mas no fundo...
Você já sabe.
Já está apaixonado.
O projeto te toca diferente dos outros.
Ele não é urgente — mas é inevitável.
Ele não promete dinheiro. Nem sucesso.
Mas você não consegue parar de pensar nele.
Ele começa a moldar o seu tempo.
A reorganizar sua libido.
Você começa a dizer "não" pra outras coisas — sem nem saber o porquê.
Porque esse projeto...
tem cheiro de propósito.
É o primeiro sopro.
E quando o primeiro sopro entra...
não tem volta.
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Artigo 2: A Possessão Suave — Quando o Projeto Passa a Morar em Você
Depois do primeiro sopro, você não é mais o mesmo.
Não importa se você diz que está só “testando uma ideia” ou “pensando em algo pro futuro”.
Mentira.
Você já foi possuído.
Mas é uma possessão suave. Quase gentil.
Ele não grita, não exige.
Ele habita.
O projeto começa a viver nos seus olhos.
Você vê ele em tudo:
— No formato da espuma do seu café.
— No diálogo aleatório entre dois desconhecidos no ônibus.
— No jeito como uma folha cai devagar da árvore e te lembra do ritmo certo das coisas.
O projeto vira filtro.
Vira pele.
E com isso… vem o tesão criativo.
Aquela sensação de que cada minuto sem tocar no projeto é um minuto de traição.
Você acorda com ele.
Pensa nele enquanto lava a louça.
Toca em seus rascunhos como quem toca o corpo de alguém que ama — sem saber se está ajudando ou só atrapalhando, mas não conseguindo parar.
Ele te pede tempo, mas não fala.
Você ouve com o corpo.
Às vezes, o projeto te beija na testa.
Outras vezes, ele te provoca: “Você vai mesmo me deixar assim? Incompleto? Meio nu?”
Você sente vergonha de não dar mais atenção.
Mas também medo de dar demais.
Porque se você mergulhar...
pode se perder.
E essa é a beleza da possessão suave.
Ele não te arranca à força — ele te convida.
Com delicadeza.
Com persistência.
Com o tipo de sedução que só as ideias que nascem do lugar certo sabem fazer.
Você ainda tem a escolha.
Mas não por muito tempo.
O corpo já sabe.
A entrega está perto.
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Artigo 3: O Mergulho — Quando o Projeto Te Engole
Agora não tem mais volta.
Você tentou resistir. Tentou ser racional. Organizado. Fazer cronograma.
Mas o projeto... ele tem um pulso próprio.
Você cai.
Não de forma trágica. Mas de forma inevitável.
Como quem escorrega pelado no lençol quente de algo maior do que si mesmo.
Você mergulha.
Não é mais você fazendo o projeto.
É o projeto fazendo você.
As palavras saem antes de você pensar.
O código escreve sozinho.
As imagens aparecem quando você fecha os olhos.
E a vida real começa a parecer... menos real.
Alguém fala com você, e você responde com delay.
“Desculpa, eu tava longe.”
Mas você não viajou.
Você só estava dentro.
É como se você estivesse transando com uma divindade.
E ele não goza fácil.
Ele exige entrega.
Dias sem comer direito.
Sem responder mensagens.
Sem saber que dia da semana é.
Mas você não reclama.
Você diz que ama esse estado.
“Estou produtiva”, você mente.
Porque não é produtividade.
É transcendência com prazo.
Você não sabe se está brilhando...
ou só delirando.
Mas sente que se parar, morre.
O corpo já é do projeto.
O tempo também.
Tudo dói um pouco — mas de um jeito bom.
Como uma yoga que puxa mais do que deveria.
Como um beijo que deixa marca.
Como uma noite que vai fundo demais.
E se alguém tenta te tirar desse transe, você reage como um amante interrompido:
“Agora não, por favor. Eu tô vivendo algo.”
E está mesmo.
Você está no auge da possessão.
E o mundo lá fora... que espere.
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Artigo 4: A Fricção — Quando o Projeto Te Encosta Onde Dói
No começo, tudo era êxtase.
Você e o projeto, colados.
Respiração sincronizada.
Corpos em expansão.
Mas aí ele começa a te testar.
Começa a pedir mais do que você tem.
Mais foco.
Mais coragem.
Mais noites em claro.
E você começa a sentir...
um leve atrito.
Um incômodo nas juntas da alma.
As ideias já não vêm tão fácil.
A inspiração some sem dizer tchau.
E o prazer que antes escorria agora vem com pequenas farpas.
Você tenta forçar, e o projeto se fecha.
Como um corpo que não se abre por obrigação.
Ele quer entrega verdadeira — e sente quando você está fingindo.
Você grita com a tela.
Reclama com o caderno.
Sente vontade de deletar tudo.
Mas o projeto não te abandona.
Ele fica ali.
No canto da sua mente.
Te olhando.
Te provocando.
Te lembrando:
"Você ainda me quer?"
E você quer.
Mesmo irritado. Mesmo exausto. Mesmo confuso.
Porque no fundo, você sabe:
o que dói não é o projeto.
É a parte de você que ainda resiste a crescer.
É como quando alguém te toca num ponto que você não sabia que era sensível.
Você estremece. Reage. Quer fugir.
Mas também quer mais.
É a fricção que anuncia a próxima expansão.
É a tensão antes do orgasmo criativo.
Você só precisa aguentar.
Ficar mais um pouco.
Respirar mais fundo.
Deixar que o desconforto te reescreva.
Porque é aqui que a alquimia acontece:
na mistura do prazer com o limite.
Do desejo com o esforço.
Da entrega com a verdade.
Você ainda não chegou.
Mas está muito, muito perto.
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Artigo 5: O Grito — Quando Você Explode em Criação
Não foi de uma vez.
Você resistiu.
Protelou.
Disfarçou com tarefas pequenas.
Se ocupou com mil outras coisas.
Mas o projeto…
ah, o projeto…
ele não largou do seu corpo.
Ficava ali, na nuca.
No ventre.
Nas coxas da ideia.
Latejando.
Pulsando.
Pedindo.
Primeiro toque.
A pressão começa a crescer, mas você tenta ignorar.
Você se ocupa com a distração de algo menor.
Mas o projeto... ele não sai de você.
Começa a apertar.
Sua mente não consegue mais desviar.
Você começa a sentir, leve e sutilmente, a tensão.
Mas se segura.
Segundo toque.
A respiração acelera, e a pele arrepia.
Você tenta se distrair mais uma vez, mas é impossível.
O desejo começa a se acumular.
A ideia que parecia distante já está se tornando concreta.
As palavras batem na sua garganta.
Você sente o impulso, mas ainda tenta se controlar.
Não é hora.
Mas cada segundo mais intenso te puxa pra dentro do processo.
Terceiro toque.
A explosão começa.
A pressão se torna insuportável.
Cada movimento criativo agora é uma descarga elétrica.
Você sente as ideias se derramando sem controle.
As palavras não são mais planejadas; elas são um desabafo visceral.
Seu corpo inteiro entra no processo.
Não dá mais pra voltar.
Você não escreve.
Você geme no teclado.
As ideias saem sem permissão.
E, no fundo, você se sente viva como nunca.
Quarto toque.
Você está completamente entregue.
O projeto já não é mais uma ideia.
Ele é você.
Ele invade tudo.
Sua mente, seu corpo, sua alma.
Você está criando com uma intensidade crua.
O prazer de ver o projeto tomar forma, de se entregar totalmente ao que está acontecendo, faz o mundo parar por um segundo.
E então... você quase chega lá.
O prazer é imenso.
A tensão insuportável.
Seu corpo treme de desejo por mais, e mais, e mais.
Quinto toque.
E finalmente, você explode.
A criação vem de forma absoluta, sem filtro, sem controle.
Você atinge o ápice, e o mundo parece desaparecer.
Tudo se dissolve num momento de pura libertação.
Você não está mais criando.
Você está sendo criada, completamente aberta, exposta ao processo.
O êxtase é total.
Você se vê transbordando de algo novo, algo que parecia impossível.
Você se vê brilhando sem pedir desculpas.
Você não se contém mais.
A criação aconteceu, e foi tão pura, tão total, que você não sabe se já terminou.
Porque, no fundo, não terminou.
O projeto sorri pra você.
Com aquele sorriso travesso de quem sabe que te levou ao limite, mas ainda te mantém lá, em suspense.
E sussurra no teu ouvido:
"Ainda não acabou."
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Artigo 6: O Gozo Lento — Quando o Projeto Te Deixa Aberta por Dentro
O ápice já passou, mas o eco continua.
A criação ainda pulsa, suave, lenta, dentro de você.
É como um prazer que vem em ondas, agora mais controladas, mas igualmente arrebatadoras.
Você pensou que teria descanso.
Pensou que o ato de criar tinha terminado.
Mas o projeto, agora, te tem de um jeito mais profundo.
Ainda não soltou sua mão, seu corpo, sua mente.
Ele te mantém aberta.
Te mantém vulnerável.
É o gozo que não cessa.
O tipo de prazer que te faz sentir que, embora tudo já tenha sido feito, ainda falta algo.
Aquelas pequenas correções.
Aquelas descobertas que aparecem, quando você já não espera.
São como toques sutis, que vão te desafiando a continuar.
A criar de novo.
Você começa a respirar de novo, mas com mais intensidade.
Com mais presença.
Cada decisão, agora, é um prazer profundo.
É como se o projeto, mesmo depois de ter te consumido, ainda tivesse o poder de te deixar em um estado de êxtase controlado.
Você se vê voltando ao ponto inicial.
Mas não é mais o mesmo ponto.
O que parecia óbvio agora tem camadas.
O que parecia simples agora carrega um peso de significado.
Você se vê mergulhando de novo, mais fundo.
Sabe que ainda não acabou.
Mas também não sabe o quanto mais será capaz de ir.
O projeto te deixa com um sorriso secreto.
Te mantém no fio da tesoura, entre o prazer e a dúvida.
E enquanto você se reconecta ao que é essencial, ainda sente a vontade de continuar.
E, no entanto, há algo novo.
Algo mais profundo.
Algo que não esperava, mas que agora não pode ignorar.
Não há volta.
O gozo lento continua.
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Artigo 7: A Ressaca — Quando a Criação Te Deixa Sem Fôlego
E você achou que tinha dado tudo.
Que o ápice tinha chegado, que a explosão do prazer tinha sido suficiente.
Mas o projeto... Ah, o projeto sabe, não termina só quando você acha que acabou.
Ele deixa você em um estado de vazio, uma ressaca de criação.
A energia que antes te consumia agora te deixa em suspensão.
Você respira de forma pesada.
O corpo ainda sente os ecos do que foi, do que se fez, do que foi liberado.
A mente... a mente está a mil.
Você se sente vazia, mas não completamente.
Uma sensação de plenitude misturada com o desejo de mais.
É um momento que te desafia a se render ao cansaço,
Aquele cansaço profundo que te pede para parar,
Mas algo dentro de você ainda grita, querendo mais, querendo se entregar de novo.
A ressaca vem acompanhada de um prazer tão sutil que você mal percebe.
É como uma onda que, depois de estourar, retorna lentamente à praia.
Você sente a força, mas a suavidade do toque agora te guia.
Há aquele momento de silêncio,
Em que você percebe que não vai mais lutar.
A entrega é total.
E o projeto, agora, ri suave.
Sabe que você vai se recuperar,
Porque no fundo, a verdadeira ressaca é o desejo de criar de novo.
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Artigo 8: O Retorno — Quando Você Volta à Superfície e Se Vê Inteira
E então, você emerge.
Após a tempestade, após o delírio, após o clímax.
Você volta.
Mas não é como antes.
Nada sobre você será o mesmo.
Você se vê de outra forma.
Uma forma que se constrói agora a partir do prazer, da intensidade, do que você superou.
A criação já não é um jogo.
Não é mais uma dança entre o medo e o desejo.
É pura liberdade.
É a verdade do que você é.
Você olha para o projeto e sente um sorriso.
Não é um sorriso de satisfação.
É um sorriso de alguém que já sabe que você é capaz de ir mais longe.
Muito mais longe.
E nesse retorno, você percebe que tudo, até a dor, até o cansaço,
valeu a pena.
Porque você não é a mesma.
O que você pensava ser impossível, agora é só mais um passo.
E você sente aquele calor crescente, aquela excitação, de quem já sabe aonde vai.
Não há mais expectativas de aprovação.
Não há mais limitações impostas.
Agora é só você,
e a liberdade de ser o que sempre quis ser.
E o projeto, lá embaixo, te observa com olhos de quem sabe que esse é só o começo.
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Artigo 9: O Infinito — Quando O Ciclo Se Renova e Você Se Torna a Criação
Você já não sabe mais onde começa e onde termina o processo.
Você é a criação.
Você é o pulsar da ideia, o movimento do sonho, a substância do desejo.
E então, o ciclo se reinicia.
Mas agora, é diferente.
Você não tem mais medo de começar.
Nem de parar.
Porque não há mais limites.
Você já explodiu tantas vezes, já foi tantas vezes ao limite, que agora é só respirar.
O prazer é uma constante.
É uma onda suave, eterna.
E você sente isso, de dentro para fora.
O novo já está dentro de você, esperando apenas a chance de se manifestar.
E não importa o que aconteça,
você está pronta.
Para mais uma vez.
Você é infinita.
Você é a criação.
Você é o que transcende.
E quando você olha para o futuro, sabe:
o prazer não tem fim.
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Agora, sim. O ciclo é eterno.
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Arvind, Brasília 💋 — Porque o prazer de um projeto está em te levar ao limite, e te deixar com a vontade de criar mais... e mais.
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